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“VIDA DE PM NO RIO – DESPREZADOS, DOENTES E COM MEDO”: Reportagem da Época que mostra a doença dos militares cariocas preocupa oficiais capixabas

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Está circulando pelas redes sociais de vários grupos de oficiais da Polícia Militar do Espírito Santo a reportagem completa da Época desta semana em que a revista traça o perfil da saúde dos policiais militares do Estado do Rio. Sob o título “Vida de PM no Rio: desprezados, doentes e com medo”,  a Época diz: “malvistos pela população e caçados pelos criminosos, os policiais militares do Rio de Janeiro estão abalados como soldados em guerras e mais suscetíveis a cometer erros fatais.” E traz uma série de explicações para tal conclusão.

Os oficiais leem a reportagem com preocupação e a atenção voltada para suas unidades. No Espírito Santo, a PM não possui nenhuma política direcionada à saúde do militar. A que seria implementada, em outubro de 2015 pelo Batalhão de Missões Especiais (BME), que é o Exame de Atenção Computadorizada, está sendo até agora  ignorada.

O texto da Época, escrito pelos jornalistas Hudson Corrêa e Raphael Gomide, inicia-se com a dramática história da capitã PMRJ Bianca Silva:

“Todos os dias, na hora de sair de casa para o trabalho, Bianca Silva ouve o apelo da filha, de 9 anos. ‘Mamãe, você vai morrer?’, diz Maria, que, invariavelmente, chora e abraça forte a mãe. ‘Por que você não escolhe outra profissão?’.

Segundo a revista,  desde setembro de 2014 Bianca é toda a família que Maria tem. O pai, o capitão da PM Uanderson Silva, foi morto aos 34 anos durante um confronto com traficantes no Complexo do Alemão. “Comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de Nova Brasília, a mais violenta entre as favelas incluídas no programa, Uanderson foi morto pela bala de um de seus soldados ao ficar no meio do fogo cruzado. Bianca passeava em um shopping quando recebeu a notícia de que o marido havia sido baleado. Antes de ir ao hospital, passou no batalhão para trocar o vestido pela farda, temendo que o ciumento Uanderson reprovasse o traje de passeio. Uanderson morreu antes que ela pudesse vê-lo”, relata a Época.

Para a revista, Bianca diz que “os danos psicológicos são inevitáveis. O tempo inteiro nós convivemos com o medo de morrer.”  De acordo com a revista, no primeiro semestre de 2015, policiais das UPPs do Complexo do Alemão e da Penha estiveram envolvidos em 260 tiroteios. Na região, a polícia é tratada como mais um inimigo, não um aliado. Por isso, cita a Época, “é comum entre os PMs a percepção de que a população sente medo, repulsa e até certo desprezo por eles”, como mostra a pesquisa ‘UPPs: o que pensam os policiais’, feita pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes.

Segundo a pesquisa, “para a maioria dos policiais entrevistados, os sentimentos dos moradores em relação a eles são de ódio, raiva, aversão, desconfiança, resistência e medo.”

A revista revela, no entanto, algo assustador: é que no Curso de Formação de Praças da Polícia Militar do Rio, os professores-oficiais ensinam os futuros soldados “a agirem em todos os sentidos”. Diz a revista: “Há algum tempo, entre as orientações,  eles (alunos-soldados) aprendem a ocultar a profissão e sobreviver em uma cidade violenta, refratária a eles. Os policiais ouvem que devem usar o carro, em vez do ônibus, para ir trabalhar.” E mais: devem esconder a farda no porta-malas ou no banco traseiro, sempre pelo avesso e dentro de um saco escuro.

Outro absurdo no curso de Formação da PM fluminense: “Além de alertar para a farda, os instrutores do Curso de Formação preparam os alunos para o pior em termos de autoestima.” Segundo a revista, os instrutores usam frases do tipo “Ninguém gosta de você...!”. E mais: “A cidade vai odiar você: o porteiro te dá café, a moradora oferece um lanche à tarde, mas todo mundo te odeia, só dá porque você está de farda.” Ou seja, entende a revista, “em vez de aprender o convívio com a sociedade, o policial sai preparado para o confronto.”

O Brasil é um dos países com o maior número de policiais mortos em confronto com suspeitos de crimes, explica a Época. Em 2014, último ano disponível na estatística, 352 policiais foram mortos no País – só para comparar, foram 96 nos Estados Unidos e apenas oito no Reino Unido.

De acordo com a pesquisa que a revista Época teve acesso, os policiais militares do Rio têm mais pressão alta do que o resto da população carioca (46% X 34%). Pelo menos 34% dos militares bebem; 14% usam tranquilizantes; 7% tomam remédios para emagrecer; 4% fazem uso de sedativos; e apenas 2% seriam usuários de maconha e cocaína. De acordo com a pesquisa, 75% dos policiais são sedentários; e outros 70% têm sobrepeso ou obesidade. Ou seja, a saúde está ruim.

Ainda segundo a revista, 81% dos militares entrevistadas na pesquisa acreditam viver em risco constante – vivem, portanto, sob tensão. Outros 36% acreditam que  a população carioca sente raiva deles.

O tema abordado por Época é de extrema importância. A situação em outros estados brasileiros não difere muito da do Rio de Janeiro, embora uma ou outra polícia possua uma ligação histórica mais estreita com a população, como é o caso, por exemplo, da Polícia Militar do Espírito Santo.

Isso é possível porque, no passado, oficiais como os coronéis Carlos Magno da Paz Nogueira e Júlio Cezar Costa criaram a chamada Polícia Comunitária, iniciando-se, assim, uma interatividade com a população de todo o Estado. Hoje, a PM conta, inclusive, com a Diretoria de Direitos Humanos e Polícia Comunitária.

A PM do Espírito Santo está sempre antenada para o público externo – afinal, é sua missão salvar vidas e proteger as pessoas. No entanto, às vezes esquece o público interno, formado por homens e mulheres que precisam estar bem para atender a sociedade capixaba.

No Estado, não se tem ainda uma política institucional oficializada que se preocupe com a saúde dos militares. Com certeza, deve ter muito policial precisando de ajuda em todos os sentidos. Muitas vezes, os sintomas não são percebidos pelos superiores hierárquicos para que seja dado o tratamento devido para cada caso específico.

O Estado possui, hoje, uma ferramenta que pode ajudar os comandantes de tropa a diagnosticarem problemas de saúde em seus comandados, que é o Exame de Atenção Computadorizado, um programa que já foi implantado no Núcleo de Operações e Transporte Aéreo da PMES (Notaer) em maio de 2015. O Notaer é vinculado à Secretaria da Casa Militar do governo estadual.

Os objetivos do exame são avaliar a capacidade de atenção; orientar possíveis fatores que possam estar interferindo na qualidade de vida, saúde e segurança dos policiais; fortalecer, com foco educativo, a importância da redução do comportamento de risco; fortalecer as boas práticas no cuidado com a saúde.

O Exame de Atenção Computadorizado também indica, com o acompanhamento diário e sistemático, problemas como ansiedade, depressão, uso de álcool, de drogas ilícitas, problemas de ordem familiar e econômica. No momento do teste revela que o funcionário está desatento, mas não indica a causa exata.

Através dos resultados do exame, é possível prevenir e propor as ações fundamentais para minimizar os riscos de acidentes e melhorar a qualidade de vida de todos os policiais.

Tudo isso seria perfeito se já estivesse funcionando também na Polícia Militar. O problema na PM, assim como na maioria dos órgãos públicos capixabas, é que os administradores não criam políticas públicas de Estado; criam políticas de governo.

A principal unidade de elite da PMES, o Batalhão de Missões Especiais (BME), anunciou para a imprensa capixaba que iria implementar o Exame de Atenção Computadorizado a partir do dia 1º de outubro de 2015. Ficou na promessa. Já se passaram quatro meses e até agora nada.

É lamentável que projetos dessa magnitude não tenham continuidade na PM capixaba. Projetos que tratam do principal recurso da instituição: o recurso humano. Tomara que esses homens e mulheres não tenham que chegar à situação vivida por seus colegas de farda do Rio.


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