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EM 2010, 8.686 CRIANÇAS FORAM ASSASSINADAS NO BRASIL: É como se 29 aviões lotados tivessem caído no País e ninguém faz nada em relação aos homicídios, diz desembargador

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Em artigo escrito neste final de semana, cujo título é 'Herodes era brasileiro?', o desembargador Pedro Valls Feu Rosa retrata a dura realidade brasileira e a omissão – que poderia ser também chamada de hipocrisia – da sociedade e autoridades em geral em relação a morte de crianças e adolescentes no País. Segundo Pedro Valls, que foi presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, entre 1981 e 2010, “pelo menos 176.044 seres humanos com menos de 19 anos de idade foram vítimas de homicídio aqui no Brasil - 90% deles crianças.”

Para lamentar e analisar os números, o desembargador  usa como exemplo acidentes aéreos, que chocam muito mais o mundo do que um assassinato – ou, no caso do Brasil, os assassinatos – de crianças e jovens. Com esse exemplo, Pedro Valls chega à seguinte conclusão:

“Apenas em 2010 o Brasil perdeu, assassinadas, nada menos que 8.686 crianças e adolescentes - o equivalente a 29 aviões de passageiros lotados. Curiosamente, no entanto, quase não se falou nisso! Que diferença faz um avião!...Apenas um acidente desses causaria comoção mundial. Inquéritos rigorosos seriam abertos, indenizações milionárias seriam pagas aos familiares e o assunto ocuparia os noticiários durante anos a fio...Tente pensar no que aconteceria se caíssem, ao longo de um único ano, 29 desses aviões. Com toda a certeza o tráfego aéreo do Brasil seria fechado, autoridades seriam exoneradas, alguém iria para a cadeia e o Brasil teria muito trabalho para provar que é um país responsável.”

Herodes era brasileiro?

    
          Hoje faremos um exercício mental. Vamos começar pensando em um daqueles grandes aviões a jato que percorrem todo o planeta, com capacidade para cerca de 300 passageiros.

         Em seguida, imagine um desses aviões carregado exclusivamente com crianças de férias rumo à Disneylândia. Suponha, agora, que este avião sofra um acidente, vitimando todos os pimpolhos a bordo - dá para pensar em alguma cena mais triste?

         Um acidente desses causaria comoção mundial. Inquéritos rigorosos seriam abertos, indenizações milionárias seriam pagas aos familiares e o assunto ocuparia os noticiários durante anos a fio.

         Mas prossigamos em nosso exercício de imaginação. Tente pensar no que aconteceria se caíssem, ao longo de um único ano, 29 desses aviões. Com toda a certeza o tráfego aéreo do Brasil seria fechado, autoridades seriam exoneradas, alguém iria para a cadeia e o Brasil teria muito trabalho para provar que é um país responsável.

         Considere, em seguida, neste fascinante passeio pelo mundo dos números, que apenas em 2010 o Brasil perdeu, assassinadas, nada menos que 8.686 crianças e adolescentes - o equivalente a 29 aviões de passageiros lotados. Curiosamente, no entanto, quase não se falou nisso! Que diferença faz um avião!

         Dia desses li que entre 1981 e 2010, 176.044 seres humanos com menos de 19 anos de idade foram vítimas de homicídio aqui no Brasil - 90% deles crianças. Voltei à calculadora. Descobri que matou-se o equivalente a quase 587 aviões de passageiros lotados. Fiz mais algumas contas e constatei que este quadro equivale à queda de uns 65 aviões a cada ano - todos lotados, claro.

         Há quem diga serem estes vestígios de um passado remoto. Marcas de um Brasil que se moderniza mais a cada dia. Poeira histórica deixada pela caminhada de um povo que marcha resoluto, rumo ao avanço e à civilidade. Discordo. E assim porque a situação só tem piorado.

         Vamos a mais alguns números: em 1980 a taxa de homicídios na faixa etária entre zero e 19 anos era de 3,1 para cada grupo de 100.000 pessoas. Em 1990, até onde pesquisei, este índice aumentou para 7,7. No ano 2000 avançamos para 11,9. E em 2010 atingimos o recorde de 13,8. Decidi fazer mais algumas contas, e descobri que entre 1980 e 2010 este índice de homicídios aumentou cerca de 376%. Tradução: tudo indica que o problema só tem piorado - e, o que é pior, sob o nosso silêncio! E que diferença faz um avião...

         Seria este um problema mundial? Após uma pequena pesquisa constatei que não. No ano de 2008 nossa taxa de homicídios na faixa etária entre 0 e 19 anos de idade era de precisos 13%. Pois bem: em uma relação de 92 países, só “perdemos” para El Salvador (18%), Venezuela (15,5%) e Trinidad e Tobago (14,3%). Alcançamos um pouco honroso quarto lugar.

         Nossa vergonha é ainda maior quando perdemos até para regiões notoriamente conflagradas (Iraque, com 5,6%), palco de guerras pelo controle do tráfico de entorpecentes (México, com 2,9%) e cenário de atos terroristas (Irlanda do Norte, com 1,7%).

         Diante deste quadro, transcrevo o alerta de um representante da Anistia Internacional: “o Brasil convive, tragicamente, com uma espécie de “epidemia de indiferença”, quase cumplicidade de grande parcela da sociedade, com uma situação que deveria estar sendo tratada como uma verdadeira calamidade social. É como se estivéssemos dizendo, como sociedade e governo, que o destino desses jovens já estava traçado”. É isso aí. Vai ver Herodes era brasileiro!


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