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SOCIEDADE PRECISA REAGIR: Insegurança transforma o Espírito Santo num Estado sem ordem

Manhã de um domingo, dia 18 de março de 2018. O ex-governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), teve o carro roubado durante um assalto no bairro Bento Ferreira, em Vitória, onde ele reside. Casagrande teve de manter a calma para não ser atacado violentamente pelos marginais. O veículo foi recuperado com a ajuda do rastreador de um dos celulares do próprio Casagrande. Na hora do assalto, Casagrande e a esposa, dona Virgínia, estavam saindo de casa, quando foram surpreendidos por dois criminosos armados.

Sexta-feira (04/05). Passava das 19 horas. O secretário de Estado da Justiça, o delegado federal Walace Tarcísio Pontes, é assaltado quando andava de bicicleta, próximo a Praça do Papa, em Vitória.  O delegado-secretário estava com um amigo, que também estava de bicicleta, quando foi abordado por dois homens de camisas pretas, que aparentavam estar armados. A bicicleta do amigo de Walace Pontes também foi roubada. Após o crime, os assaltantes fugiram em direção ao bairro Jesus de Nazareth.

Sexta-feira (04/04) à noite. A  empresária Simone Tonani, de 42 anos, é atingida com um pedaço de vergalhão na cabeça, na avenida Champagnat, em Vila Velha, quando estava dentro de seu veículo. O criminoso, o morador de rua identificado como Felipe Rodrigues Gonçalves, foi preso pela Polícia Militar. A moça, que estava acompanhada de seu filho de 8 anos quando foi atacada, morreu no dia seguinte.

Sexta-feira (04/05) pela manhã. O metalúrgico Thiago Alves, 29 anos, é assassinado a tiros enquanto ia para o trabalho, no bairro Enseada de Jacaraípe, na Serra. Ele estava no ponto de ônibus e teria sido vítima de latrocínio (roubo com morte). Um PM aposentado, que presenciou o assalto, trocou tiros com um criminoso, que também morreu. No domingo (06/05),  moradores realizaram protesto exigindo mais segurança em Jacaraípe, um dos mais importantes balneários do Estado.

Os quatro casos são emblemáticos. Significam que a crise que assola a segurança pública (ou a falta dela) no Espírito Santo está longe do fim e atinge até mesmo autoridades que, em tese, são pagas para ajudar a proteger a sociedade – que é o caso específico do secretário da Justiça, Walace Pontes, responsável pelo sistema prisional capixaba.

Entre 2011 e 2014, o Espírito Santo viveu um período em que a segurança pública tinha cara; seus operadores eram estimulados a trabalhar e resultados positivos eram cobrados. O Estado, então, conseguiu reduzir as taxas de homicídios e a aumentar os índices de esclarecimentos de crimes. Foi justamente o período em que o Estado foi governado pelo Renato Casagrande, agora vítima de marginais.

De 2015 em diante, o governo Paulo Hartung pôs tudo a perder. Preferiu investir pesado no marketing pessoal de seu secretário da Segurança Pública, André Garcia, e de seu comandante-geral da PM, coronel Nylton Rodrigues – hoje no cargo de secretário porque Garcia quer ser candidato a deputado em outubro deste ano, apesar de resultados pífios em sua gestão –, como forma de apresentar à sociedade imagens simpáticas.

O governo Paulo Hartung preferiu investir na “compra de armamentos pesados” em vez de investir na Inteligência Policial; em vez de investir no ser humano – os próprios policiais civis e militares –; em vez de investir na infraestrutura policial, evitando que unidades policiais caiam aos pedaços – vide a sede da Delegacia Regional de São Mateus e outras unidades Estado afora.

A polícia do atual governo, graças aos seus gestores e às jogadas de marketing, esqueceu que ''a polícia tem que perseguir o não fato". Esqueceu que o policiamento ostensivo e preventivo ainda é o melhor caminho para se inibir um crime, pois, depois do fato, a polícia só chegará para apagar incêndios.

Nos casos dos assaltos ao ex-governador Casagrande e ao secretário-delegado federal Walace Pontes, a Polícia Civil garante que “os casos estão sendo investigados”. Nos dois casos, a Polícia Militar divulgou nota para garantir que o policiamento ostensivo na região é feito diuturnamente, com abordagens a pessoas, cercos táticos e blitze.

As cenas que se observa, porém, diuturnamente nas ruas do Estado nos mostram que parece vivermos um momento muito favorável ao crime e ao criminoso. Não existe um plano estratégico que consiga identificar parte dos assaltantes soltos nas ruas, embora o governo esteja sempre divulgando – graças ao seu eficiente serviço de marketing – na imprensa convencional ter prendido “um dos 10 bandidos mais procurados do Estado” ou ter prendido “o maior traficante”. (O Espírito Santo, aliás, é cheio dos “maiores traficantes” e a lista dos 10 mais procurados já deve ter chegado a um milhão de 2015 em diante).

Se a Polícia Ostensiva está capenga porque – principalmente – a tropa está desestimulada, a Polícia Judiciária capixaba fica a desejar. Não por falta de estímulo, pois, desde a semana passada, a Chefia de Polícia vem publicando no Diário Oficial uma série de gratificações para delegados, escrivães e investigadores, graças a uma lei aprovada este ano pelo governo do Estado.

Com a alegação da falta de efetivo, delegados, geralmente, têm que optar o que investigar. Comprovação do fato está em relatório lançado pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que revela que o Espírito Santo possui 134 Delegacias de Polícia Civil. Deste total, apenas sete contam com o número de policiais suficiente para o adequado exercício da atividade-fim, que é a investigação de crimes.

E mais: somente 26 das 134 delegacias contam com plantão ininterrupto. Informa ainda que Inquéritos Policiais tramitam há mais de dois anos em 109 delegacias capixabas.  O resultado é que as delegacias estão sucateadas,  com baixo efetivo policial. Por isso, a falta de investigação de crimes são alguns dos problemas no Espírito Santo.

Logo, vai ser difícil essa mesma Polícia Civil concluir a investigação dos assaltos a que tiveram como vítimas o ex-governador Renato Casagrande  e o secretário da Justiça, Walace Pontes.

Não se deve responsabilizar apenas o Executivo Estadual pela falta de segurança nas ruas. A Guarda Municipal de Vitória tem se mostrado também em outra jogada de marketing dos gestores públicos. É preciso que as Guardas Municipais tenham um papel mais preponderante no combate à criminalidade. Vitória, por exemplo, tem apenas 93,38 quilômetros quadrados, contando com a Ilha e o Distrito de Goiabeiras. Com esse tamanho, o Poder Público Municipal tem condições de manter viaturas em vários pontos, numa espécie da reedição dos módulos de segurança do antigo Pro-Pas.

É inadmissível que o Município, dono da maior arrecadação do Estado, não consiga colocar viaturas da Guarda Municipal em pontos estratégicos, como forma de ajudar a Polícia Militar e – o mais importante – aumentar a segurança nas ruas.

A responsabilidade pela melhoria da segurança pública deveria ser melhor compartilhada entre os entes. Não importa se o governador Paulo Hartung e o prefeito Luciano Rezende, que já foram amigos de verdade, estejam agora bicudos e se entranhando. Luciano já foi secretário de Esportes de Hartung e ambos têm, no fundo, o mesmo pensamento político, embora hoje estejam “de mal”, coisa feia para dois homens adultos.

Chega a ser cômico, senão fosse trágico, quando um turista chega a Vitória e não vê a presença de nenhuma viatura – nem da PM e nem da Guarda Municipal – na Praça do Papa e em outras praças da região. Para nós, moradores, é absolutamente normal, pois já perdermos a sensação de segurança há um bom tempo.

O caos que se vê nas ruas da Grande Vitória, principalmente, exige reflexão e reação por parte da sociedade. Não adianta apenas manifestações com bloqueio de ruas ou pneus queimados, até porque, danos ao patrimônio público ou privado também é crime, por mais louvável que seja o motivo dos protestos.

O momento exige manifestações institucionais, de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/ES), das lideranças religiosas – como os representantes da Arquidiocese de Vitória –,do empresariado.

A insegurança está novamente transformando o Espírito Santo num Estado sem ordem, numa “República” onde a verdade do marketing é que prevalece.

É preciso, pois, que a sociedade transforme a luta numa bandeira permanente, para, enfim, podermos deixar de recolher cadáveres nas ruas. Não há nada pior do que perder nossos entes queridos para os marginais pistoleiros, que, ao que parece, são os verdadeiros donos do Espírito Santo.


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