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“BANDIDO QUE APONTAR ARMA PARA POLICIAL VAI TOMAR TIRO NO PEITO”, DISSE O COMANDANTE DA PM, NYLTON RODRIGUES, EM DEZEMBRO DE 2012: "Discurso de bandido bom é bandido morto é medieval", diz governador, em janeiro de 2018

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“E aquele bandido que insinuar, que pegar a sua arma para enfrentar o policial, vai levar um tiro sim. E não vai levar um tiro no braço não, ele vai levar um tiro é no peito mesmo”. A frase foi dita pelo então comandante do 6º Batalhão (Serra) da Polícia Militar, o tenente-coronel Nylton Rodrigues Ribeiro Filho, em entrevista ao Programa Balanço Geral, da TV Vitória, no dia 12 de dezembro de 2012 e repercutida, na edição do jornal A Tribuna do dia seguinte.

“Reputo como medieval o discurso de certas pessoas de que bandido bom é bandido morto. Pessoas e lideranças que reproduzem essas conversas horrorosas e atrasadas estão adotando apenas um discurso fácil e que não leva o País a lugar algum”. Frase dita pelo governador Paulo Hartung (PMDB), na noite de 8 de janeiro de 2018, durante discurso de evento que ele participou na sede da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), em Vitória, com empresários e políticos.

Atualmente, o coronel Nylton Rodrigues acumula os cargos de  comandante-geral da PM e secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social. Está na Sesp desde o dia 31 de dezembro de 2017 por conta das férias do titular da Pasta, o pernambucano  André Garcia, que deverá retomar ao cargo nesta quarta-feira (10/01).

As duas frases, os dois pensamentos demonstram que, pelo menos no quesito – destino de suspeitos de crimes –, o comandante da PM, coronel Nylton, e o governador Paulo Hartung têm pensamentos distintos. O primeiro, ao menos naquele ano de 2012, defendeu com veemência que a polícia tinha que atirar em suspeitos que por ventura pensassem em apontar alguma arma para a polícia. Já o governador Hartung, que sempre procurou manter uma política de defesa dos direitos humanos, é contra a morte de bandidos.

O então tenente-coronel Nyton Rodrigues foi elogiado e ao mesmo tempo criticado quando deu a declaração em dezembro de 2012. Nas redes sociais, a maioria concordou com a sua linha de pensamento.

Já o especialista em Inteligência de Segurança Pública e professor Nízio do Bem, foi contrário ao posicionamento do comandante Nylton. Em entrevista a A Tribuna do dia 13 de dezembro daquele ano, Nízio disse que “falta treinamento à Polícia Militar para que não haja excesso durante as abordagens”.

E explicou:  “Na prática do dia a dia, falta aos policiais de todo o Brasil um treinamento mais constante. O policial não pode usar a arma sem que a agressão seja real. Ele não pode achar que o suspeito vai atirar. Ele precisa ter certeza”.

Na mesma reportagem, Nízio do Bem citou o Código de Conduta dos Encarregados de Aplicação da Lei (CCEAL), da ONU, que orienta que os tiros sejam efetuados apenas em situações de extrema necessidade.

“O código, defendido pela ONU, limita o uso da força pelos PMs às situações em que seja estritamente necessário. O policial não poderia só achar que vai haver uma reação, teria que ter certeza”, explicou Nízio do Bem.

O governador Paulo Hartung esteve na sede da Findes para sancionar dois Projetos de Lei pleiteados pela federação em nome da indústria capixaba: o Código de Defesa do Contribuinte Capixaba, que prevê direitos, garantias e obrigações dos contribuintes com regras claras e maior segurança jurídica às empresas e investidores do ES; e a redução do ICMS para cachaças e vinhos produzidos no Estado, resultado de pedido do Sindicato da Indústria de Bebidas em Geral do Estado do Espírito Santo (Sindibebidas).

Com a sanção da lei, as alíquotas caem dos atuais 25% para 12% em 2018. No próximo ano a redução será de 17%. A medida beneficia empresas que produzem até 30 mil litros de bebida por ano.

De acordo com o Gazeta Online, durante sua fala, “de aproximadamente 40 minutos, Paulo Hartung foi enfático ao dizer que pessoas e lideranças que reproduzem essas conversas horrorosas e atrasadas (de que bandido bom é bandido morto)  estão adotando apenas um discurso fácil e que não leva o país a lugar algum”.

Para o Gazeta Online, “apesar de não citar nomes, o recado (do governador) foi direto para candidatos e eleitores ao estilo do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ)”, que na visão de Hartung estão disputando uma corrida de 100 metros.

"Essa conversa fácil é a corrida de 100 metros. Meu movimento não é esse, é em maratona", comparou Paulo Hartung após explicar que quem leva a melhor em uma maratona não é quem sai na frente, mas quem melhor sabe traçar a estratégia. Em dezembro do ano passado, Bolsonaro afirmou que quer dar "carta branca" para policiais em serviço matarem.

Resta saber se o hoje coronel Nylton Rodrigues mudou de opinião a respeito de como a sua tropa deve encarar os suspeitos de crimes, uma vez que, como secretário interino da Segurança Pública e comandante-geral da PM, ele é obrigado a rezar pela cartilha do governador do Estado, mesmo que, para tanto, tenha que esquecer tudo que aprendeu e ensinou no dia a dia.

Claro que o pensamento do governador Hartung é muito mais elegante, humanitário, sensato e  politicamente correto. Uma autoridade pública não deve jamais estimular algo insensato. Claro que, entre o representante armado do Estado (que é policial) e o criminoso, a sociedade tem de apoiar sempre o policial, embora esse apoio não signifique carta branca para atirar e matar quem quer que seja.

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