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Exame antidrogas é necessário, mas comandante-geral da Polícia Militar expõe seus oficiais numa atitude desnecessária, deselegante e perigosa

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O fevereiro sangrento de 2017, em que, durante 22 dias, policiais militares promoveram uma “greve” no Espírito Santo, parece não ter fim. O governo, que se considera vitorioso no episódio, continua tripudiando sobre a tropa. O episódio deixou marcas profundas, sobretudo na população, a maior prejudicada até agora: foram mais de 200 homicídios no período de 22 dias, além de centenas de assaltos e outros crimes.

O aquartelamento aconteceu em protesto contra os  baixos salários. Desde 2015, os servidores públicos estaduais estão sem reajustes. Nem mesmo a reposição da inflação é concedida pelo governo Paulo Hartung. No final de novembro, o Pleno do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo considerou que o governador Hartung descumpre as Constituições Federal e Estadual ao se recusar conceder reajustes para os servidores civis e militares.

Na última sexta-feira (08/12), o comandante-geral da PM, coronel Nylton Rodrigues Ribeiro Filho, anunciou uma decisão importante e necessária: oficiais – e, posteriormente, os praças também –, para garantir pontuação para promoções, terão de se submeter a Exame Toxicológico/Antidoping, conforme estabelece o artigo 23, inciso III da Lei Complementar Estadual (LCE) nº 848/2017.

Com base na lei, o comandante Nylton convocou, por meio do Boletim Geral da Polícia Militar (BGPM), número 054, “Oficiais e Aspirantes a Oficial dos Quadros de Oficiais Combatentes, Médicos, Dentistas, Farmacêuticos-Bioquímicos e Enfermeiros para realizarem o fornecimento de material orgânico, objetivando a realização do exame toxicológico/antidoping, do tipo janela de larga detecção”. São, ao todo, 315 militares convocados.

Se a decisão para a realização do teste antidrogas é necessária – já existe esta obrigatoriedade para os quadros de acesso à PMES e é também uma realidade há décadas nas empresas privadas –, o remédio utilizado pelo coronel Nylton Rodrigues é totalmente nefasto.

O comandante, ao publicar a convocação de Oficiais no BGPM (boletim aberto), está expondo seus oficiais – de aspirantes a tenentes-coronéis. São homens e mulheres já com uma vasta ficha de excelentes serviços prestados ao povo capixaba; muitos deles já comandaram ou comandam Batalhões.

Ressalte-se que assuntos inerentes a oficiais, até mesmo os mais banais – inclusive quadros de acesso –, são publicados no Boletim Reservado. Todavia, o coronel Nylton Rodrigues  foi mais além na arte de humilhar e tripudiar sobre a tropa: permitiu a imprensa – notadamente a Rede Gazeta de Comunicação – a ter acesso à integra do Boletim Geral, para publicar todos os 315 nomes dos oficiais convocados para o teste antidrogas.

Por parte do veículo de comunicação e, sobretudo, por parte do próprio comandante-geral da PM, coronel Nylton Rodrigues, uma exposição desnecessária, deselegante e altamente perigosa.

Perigosa porque, uma vez divulgada, a lista permite que organizações criminosas conheçam grande parte do oficialato capixaba. São oficiais, inclusive, lotados nos Serviços de Inteligência que passaram, com a divulgação permitida pelo seu próprio comandante-geral, coronel Nylton Rodrigues, que narcotraficantes, chefões do crime organizado, líderes de facções criminosas que agem dentro das cadeias, tenham conhecimento de cada nome contido na listagem divulgada pela imprensa.

Claro, o comandante-geral da PM, coronel Nylton Rodrigues, não pensou nessa possibilidade. Colocou seus oficiais entregues às feras. O que a sociedade vai pensar quando souber que determinado oficial, da lista de 315, foi preterido na promoção? Mesmo que a não promoção se deu por outro motivo, as pessoas vão imaginar – com todo direito – que o oficial foi pego no exame antidoping, para usar uma linguagem bastante comum no mundo esportivo.

O coronel Nylton Rodrigues está levando ao pé da letra a ameaçadora frase dita pelo governador Paulo Hartung no auge da crise de fevereiro: “Não sobrará pedras sobre pedras”. Hartung citou a frase em entrevista à jornalista Miriam Leitão, da Globo News, ao mesmo tempo em que anunciou, em plena “greve” dos militares, "uma profunda reestruturação na Polícia Militar", porque, "no que depender de mim, não sobrará pedra sobre pedra".

Numa guerra, os vencedores jamais devem humilhar e ou tripudiar sobre os perdedores. Parodiando o governador Paulo Hartung, “a mão peluda” do comandante Nylton Rodrigues está, a cada momento, acabando com o orgulho de seus comandados; acabando com o sonho de seus oficiais e praças, que é o de, um dia, reconquistar o orgulho de servir à briosa e à sociedade espírito-santense.

A cada canetada, Nylton Rodrigues corta um pedaço dessa que foi  – e ainda é – a instituição  de maior credibilidade do povo capixaba. A credibilidade alcançada, ao longo de quase 200 anos, se deve também ao próprio coronel  Nylton Rodrigues Ribeiro Filho. Mas, muito mais, se deve ao legado deixado por seus antecessores, que sempre colocaram, em primeiro lugar, a defesa intransigente da tropa.


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