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SÓ GOVERNO NÃO VÊ CLIMA DE TENSÃO NA CASERNA: Militares se negam a gravar propaganda para o governo sobre a reestruturação da Polícia Militar do Espírito Santo

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Não anda muito bem o marketing político que o governo do Estado do Espírito Santo busca explorar da Polícia Militar. Os ânimos da tropa não andam muito simpáticos com o Comando Geral da corporação, nem tão pouco com a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) e, muito menos, com o Palácio Anchieta.

Esta animosidade é antiga, estourou no aquartelamento de fevereiro e, se o governo não abrir os olhos, tende a aumentar – vide as redes sociais, onde familiares dos militares presos acusados de serem os líderes do motim deste ano criticam com muita veemência o comandante-geral, coronel Nylton Rodrigues, o governador Paulo Hartung, o secretário André Garcia e outros políticos ligados ao governo.

Logo nos primeiros dias de governo Hartung a animosidade foi sentida. O primeiro clima nada agradável aconteceu na noite de 7 de abril de 2015. Era momento de festa para a PM, que comemorava 180 anos de fundação e de excelentes serviços prestados à população capixaba – e, porque não, aos governantes também que gostam de tirar proveito da PMES quando a situação permite.

Naquela noite, pela primeira vez na história, o discurso de um governador foi recebido com um protesto silencioso por oficiais e praças da Polícia Militar dentro do Quartel do Comando Geral, em Maruípe, Vitória. Ao pedir um “Viva à Polícia Militar do Espírito Santo”, o governador Paulo Hartung (PMDB) por duas vezes teve de encarar o silêncio de toda a tropa que estava em forma, durante a principal solenidade em comemoração aos 180 anos da PM.

O silêncio dos militares, no entanto, foi substituído por uma estrondosa vaia em 5 de novembro de 2015. Naquela noite, em pleno Ginásio Álvares Cabral – ou, Arena Vitória –, vice-governador César Colgnago (PSDB) recebeu a maior vaia de sua vida, ao representar o governador Paulo Hartung na solenidade de formatura de 965 novos soldados da Polícia Militar.

Mais de 5 mil pessoas estavam nas arquibancadas do ginásio e começaram a vaiar o vice-governador quando seu nome foi anunciado. Entre os presentes, estavam familiares e amigos dos formandos, além de policiais militares a serviço e à paisano.

Outra cena previsível aconteceu na manhã desta terça-feira (18/07) – só não foi previsível, é claro, para o Serviço de Inteligência da Sesp e nem para os marqueteiros do governo. Uma equipe de assessores da Sesp foi ao pátio do Quartel do 1º Batalhão da PM, na entrada que dá acesso ao Bairro da Penha, na Região de Maruípe, em Vitória. Uma das assessoras de Imprensa/Marketing anunciou que iria filmar os policiais militares, que estavam em forma prontos para assumir mais um dia de serviço.

O objetivo da equipe de cinegrafistas era gravar imagens de cunho institucional (na verdade, político-publicitário) “para mostrar o novo trabalho da Polícia Militar com essa reestruturação”. O governo queria o engajamento dos policiais militares em prol dessa “reestruturação”, que, embora tenha alguns aspectos positivos, está causando  angústia e revolta na maioria da tropa – oficiais e praças, num todo.

Para realizar a gravação, no entanto, a Sesp precisaria que os militares assinassem uma autorização para a divulgação da imagem em TVs e em outras mídias s sociais, sem qualquer ônus para o governo ou para a agência de publicidade, que, por sua vez, recebe milhões de reais do governo capixaba em contrato de publicidade para efetuar o trabalho. Só que nenhum militar quis autorizar a sua participação voluntária nas filmagens.

O capitão Bonfim, porém, colocou todos os militares em forma e falou: “Quem quiser ser voluntário para as filmagens, permaneça em forma; quem não aceitar, pode sair de forma”. Resultado: todos os militares saíram de forma.

Para alguns, a angústia que a tropa está amargando reflete em forma de não envolvimento nas pretensões governamentais. O aquartelamento de fevereiro foi em protesto pela falta de reajuste salarial – desde 2015 os servidores públicos civis e militares capixabas estão sem receber, sequer, a reposição da inflação.

Para outros, no entanto, o episódio desta terça-feira tem um “quê” de pirraça, que só tem efeito dentro da corporação e entre os praças. No entanto, “serve ao governo, pois justifica e atiça medidas de retaliação”.

O gesto, todavia, soa como um aviso, sobretudo num momento em que parte da parcela da cúpula da Segurança Pública visivelmente vem se preparando dentro e fora do governo para buscar um lugar ao sol nas eleições de 2018. Há autoridades do governo usando e explorando as operações policiais não com o intuito de, efetivamente, combater assaltos a ônibus, tráfico de drogas, assassinatos e outros crimes, mas, usando, sobretudo, com o condão de se projetar politicamente.

É aí que deveria entrar de sola o coronel  Nylton Rodrigues, que, na condição de Comandante-Geral da Polícia Militar, tem de impedir que “autoridades” de fora da caserna usem a instituição mais antiga de maior credibilidade do povo capixaba para se projetar politicamente, como já fizera em 2010 o “xerife” Rodney Miranda.

Há hoje mais candidatos a deputados estaduais e federais dentro da Polícia Militar e da Secretaria de Estado da Segurança Pública do que imaginam o governador Paulo Hartung e a população.


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