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COMISSÁRIO DE POLÍCIA DANIEL GOMES FALA SOBRE COMO INVESTIGAR CRIMES COM A AJUDA DIVINA: Ele já desvendou mais de 200 casos no Rio de Janeiro sem disparar um tiro

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O Comissário de Polícia, professor e escritor Daniel Gomes de Lima Freire vai completar, em junho de 2017, 30 anos atuando como policial civil no Rio de Janeiro. Hoje, ele é também pastor da Igreja Assembleia de Deus em Bangu. Daniel Gomes é responsável pela elucidação de uma série de homicídios no Rio. Desvendou o assassinato do jornalista Tim Lopes, da Rede Globo, em janeiro de 2002.

No currículo do policial Daniel Gomes, há mais de 200 casos – crimes contra a vida e contra o patrimônio – desvendados sem dar sequer um tiro. Como isso é possível, justamente no Rio, onde a polícia tem fama de violenta:

“Ao longo dos anos da minha formação aprendi que quanto mais violento o policial, menos técnico ele é, pois o que falta em tecnologia e conhecimento  ele extrapola em violência”, ensina o professor Daniel, autor dos livros “Como Investigar Crimes Com Ajuda Divina" e “Manual de Homicídio” e da “Apostila de Metodologia em Crimes de Homicídios”.

“Meu primeiro livro, “Como Investigar Crimes Com Ajuda Divina", narra 40 crimes solucionados, sendo um grito do autor que demonstra que existe um interesse Divino, em que a Justiça se cumpra na terra (Romanos 13:1). E o instrumento dessa Justiça é o trabalho do policial, milagroso, principalmente, quando não existem no Brasil  programas sociais e criminais de preservação do local de crime; um programa governamental  de preservação à testemunha no Inquérito Policial; e a falta de Metodologia de Investigação Criminal, principalmente na área de crimes contra a vida”, pontua Daniel Gomes, que, no entanto, não se segura apenas na força Divina para elucidar assassinatos e outros crimes – os procedimentos adotados pela Polícia Civil do Rio têm contribuído em muito para esclarecimentos de homicídios:

“Nos locais de crimes, nossas equipes contam com a presença do GELC (Grupo Especial de Local de Crime), do GI (Grupo de Investigação), do perito legista, perito criminal e do perito papiloscopista, que motivam inicialmente  cinco relatórios investigativos”,  ensina o professor.

Daniel Gomes atingiu o ápice da carreira policial. Exerce hoje o cargo de Comissário de Polícia, que é o último grau do Inspetor de Polícia Civil no Estado do Rio, sendo o chefe dos Inspetores. Seu salário bruto, de R$ 19.974,33, é maior do que recebe, por exemplo, um delegado de Polícia em início de carreira no Estado do Rio: “É Deus na minha vida, pois até meu salário tem uma gratificação de 100% por crimes esclarecidos”, explica o Comissário de Polícia carioca.

Nesta entrevista ao Blog do Elimar Côrtes, ele faz questão de mencionar dois delegados de Polícia Civil do Espírito Santo, com quem trabalhou no Rio: Adroaldo Rodrigues Lopes e Altair Ferreira, que, na época, eram inspetores (investigadores) de Polícia fluminense. “São meus amigos e profissionais supercompetentes”, diz Daniel Gomes.

Blog do Elimar Côrtes – Quando o senhor entrou para a Polícia Civil do Estado do Rio?
Daniel Gomes de Lima Freire – Iniciei o Curso de Detetive de Polícia do Estado do Rio de Janeiro, em 1986, tendo tomado posse no dia 09/06/1987.

– Por quais unidades o senhor passou?
– Trabalhei em quase todas as unidades de Polícia da capital e Baixada Fluminense,  mas dentre elas citaria como experiência profissional as chefias do Setor de Homicídios da 52ª Delegacia Policial de Nova Iguaçu, período 1994 a 1997, Setor de Roubos e Furtos de Carga da Delegacia de Roubos e Furtos do Rio (1997), Setor de Análises e Estatísticas da DP de Roubos e Furtos de Autos (1998), Setor de Homicídios da 37ª DP Policial (Ilha do Governador), em 1999, do Setor de Homicídios da 24ª DP (Piedade), em 2000, e chefe do Setor de Homicídios da 37ª DP em 2000, dentre outras. Também integrei o Grupo de Investigação da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense em 2015, e, atualmente, estou no Grupo de Investigação Complementar (GIC)  da Divisão de Homicídios da Capital.

– Quais livros o senhor já escreveu?
– “Como Investigar Crimes Com Ajuda Divina", Editora Usina de Letras-Vermelho Marinho- 2010, onde narro como consegui elucidar crimes dos mais violentos, com provas dificílimas que surgiram na investigação como que por verdadeiro milagre. Tem também o "Manual de Homicídio", Editora Usina de Letras-Vermelho Marinho-2016, que demonstra tecnicamente porque se morre no Brasil vítima de homicídio doloso; porque a sociedade está se matando; e como o homicídio deve ser investigado passo a passo.

– Fale um pouco de suas obras literárias e de sua importância para o Sistema de Justiça Criminal.
– O primeiro livro, “Como Investigar Crimes Com Ajuda Divina", narra 40 crimes solucionados, sendo um grito do autor que demonstra que existe um interesse Divino, em que a Justiça se cumpra na terra (Romanos 13:1). E o instrumento dessa Justiça é o trabalho do policial, milagroso, principalmente, quando não existem no Brasil  programas sociais e criminais de preservação do local de crime; um programa governamental  de preservação à testemunha no Inquérito Policial; e a falta de Metodologia de Investigação Criminal, principalmente na área de crimes contra a vida.

Já o segundo livro, "Manual de Homicídio", é uma obra técnica/científica, editada por um pedagogo/profissional de Polícia Judiciária, com base em experiências  reais que foram dissecadas ao longo de 30 anos de aprendizado na área de investigação e que demonstram que a caótica situação existente mostra que, independentemente da atividade exercida pela Polícia Judiciária, é necessário se investir na técnica profissional aliada a metodologia científica.

– Sobre o livro "Manual de Homicídio", porque se mata tanto no Brasil?
– Entendo que no início da minha função policial, quando chefiava  setor de Homicídio de Delegacia de bairro, os crimes de homicídios eram geralmente contra pobre, negro e ex-presidiários, fato que não motivava ao Estado a investir nessa área criminal. Com o passar do tempo ocorreram mudanças de comportamento nas mortes, pois a  sociedade brasileira   contemporânea, diante de uma contenda,  já não soluciona seus litígios mais pela via do diálogo ou jurídica e sim mata ou manda matar. O exemplo real é que a maioria dos criminosos e/ou mandantes são pessoas ligadas à vítima.

– Qual a importância desse livro para a sociedade e a polícia?
– O livro alerta a sociedade sobre as falhas comportamentais naturais que praticamos, como familiar; passional; sexual; profissional; religiosa; financeira; política e penal. Essas falhas se transformam em motivação criminosa, numa sociedade altamente desequilibrada ética, moral e espiritualmente, conforme exemplos concretos citados e apurados ao longo dos 30 anos e que estão no livro.

Quanto à Polícia Judiciária, pude verificar que ao longo de 30 anos de serviço, nunca estudei sobre o comportamento da sociedade e quanto à metodologia de investigação, fatos que me incentivaram a criar a princípio a Apostila de Metodologia de Investigação, em 2003,  e posteriormente em 2016, lançar o livro.

– De que forma a “Apostila de Metodologia em Crimes de Homicídios” tem ajudado investigadores de Polícia?
– Autor em 2003  da única Apostila de Metodologia em Crimes de Homicídios, registrada  nos direitos autorais do Rio, em 27 de maio de 2003, sob o n° 283.962, do livro 513, das folhas 62, tentei por 10  anos introduzi-la na Acadepol do Rio. Somente no ano de 2013, consegui mostrar  para a área pedagógica da Acadepol da PCERJ que o material era importantíssimo e único, pois o material existente até então se mostrava totalmente ultrapassado. Assim, a Apostila de Metodologia em Crimes de Homicídios passou a fazer parte da matéria pedagógica do Curso de Formação de Policiais Civis da Academia de Policia Civil Silvio Terra-RJ, a partir de 2013, estando atualmente fazendo parte da formação na área de Crimes Contra a Vida, onde eu atuo como professor também na área de Crimes Contra o Patrimônio. 

– Conte alguns casos resolvidos que o senhor atribuiu à ajuda Divina e como se deram essas elucidações?
– Teríamos vários crimes, mas exemplificaria com três casos que até me emocionam. O primeiro, no dia 22 de setembro de 1998, numa terça-feira, por volta das 9 horas,  um veículo importado era encontrado abandonado na Rodovia Presidente Dutra. No interior do veículo existia grande quantidade de sangue, uma Bíblia e um CD  evangélico de um pastor/cantor muito conhecido do povo cristão.

Horas depois seu corpo era encontrado em um local de pasto, localizado no município de Queimados. Através da quebra de sigilo telefônico, restou apurado que a vítima recebera três ligações telefônicas que teriam mudado seu destino. Localizado o telefone, tratava-se de um orelhão público. Resolvi comparecer ao local e efetuei ligação do meu telefone celular para aquele telefone público até que alguém o atendesse. Um rapaz atendeu a ligação e então o acompanhei até ao seu comércio e lá, em poucos minutos de conversa, mostrei-lhe a foto do pastor, momento em que ele o reconheceu como sendo um freguês que costumava jantar no local. E que, após o jantar, um jovem que era segurança do local, costumava acompanhar o pastor. Horas depois o crime estava esclarecido, pois, através da Criminalística, conseguimos as provas necessárias para indiciar o autor por homicídio, tento sido condenado a 18 anos de prisão (investigações indicaram que o pastor teria sido vítima de crime passional). 

O segundo, dia 28 de janeiro de 1999, quinta-feira, às 9:22 horas, o corpo de uma bonita jovem enforcada com fio paralelo elétrico era encontrado na Estrada de Tubiacanga, próximo ao Aeroporto Internacional do Galeão. A família desesperada e o noivo acreditavam que um ex-namorado era o suspeito do crime, porém dias depois, para surpresa policial, um inspetor de seguros comunicava existir uma apólice de seguros em nome da vítima no valor de R$ 340 mil, sendo o único beneficiário o atual desesperado noivo.

De posse de uma ordem judicial de prisão temporária e de mandado de busca e apreensão, foi efetuada revista no apartamento do suspeito, tendo sido encontrado embaixo da pia da cozinha um fio paralelo elétrico similar ao encontrado envolto no pescoço da vítima. A Criminalística comprovou que ambos os pedaços de fio foram seccionados um do outro, sendo o acusado indiciado e denunciado por homicídio. Foi condenado a 26 anos de prisão. Citaria que nesta investigação tive a companhia do Dr. Adroaldo Lopes e Dr. Altair Ferreira, Delegados de Polícia do Espírito Santo e a época Inspetores de Polícia na 37ª DP-Ilha do Governador (Rio).

O terceiro caso ocorreu no dia 19 de junho de 2000. Uma denuncia anônima, via telefone, irrompia o Setor de Homicídios daquela Distrital, narrando que um jovem morador da Ilha do Governador não estaria desaparecido e sim teria sido morto por sua esposa e sua empregada homossexual, sendo que o corpo foi amarrado no interior de um veículo e lançado ao mar. A imediata verificação da denuncia traria horas depois ambas às mulheres à delegacia, onde, após negarem veementemente o fato, caíram em contradições. Elas tiveram seus pertences revistados e três cartas de amor encontradas mostravam que o marido era a única interferência entre ambas.

Com auxílio do Corpo de Bombeiros vasculhamos o cais e, para surpresa, o veículo da vítima era içado confirmando o informe, pois seu corpo seminu, enrolado em um edredom do quarto do casal, jazia. Através da Criminalística outras provas do crime foram coletadas, sendo ambas indiciadas. Foram condenadas cada uma a 21 anos e seis meses de prisão.

– Como o senhor avalia a atual situação das Polícias Civis brasileiras?
– Estão falidas, vendendo o almoço para jantar. Costumo dizer que “viva a Polícia do Rio!”, pois, viajando pelo Brasil, tenho visto a existência de vários países Brasil dentro do Brasil, pois em cada Estado temos um quadro diferente, não há unificação de protocolos a serem seguidos, inclusive na área de investigação de homicídio. Ou seja, cada um faz como quer, da forma que é possível, com os meios que tem  e como lhe agrada. 

– Em seu currículo, o senhor informa já ter ajudado a solucionar mais de 200 crimes. O senhor se refere a crimes contra a vida ou outros tipos de delitos?
– Tenho na minha formação policial passagens por várias Delegacias Distritais e Especializadas, fato que contribuiu muito com a minha formação polivalente. Ou seja, 80% dos crimes solucionados foram na área de Crimes Contra a Vida e 20% na área de Crimes Contra o Patrimônio.

– Como foi solucionar tantos crimes sem dar um só tiro sequer?
– Ao longo dos anos da minha formação aprendi que quanto mais violento o policial, menos técnico ele é, pois o que falta em tecnologia e conhecimento  ele extrapola em violência.  Meu livro “Como Investigar Crimes Com Ajuda Divina” tem uma frase na capa do Dr. Zaqueu Teixeira, ex-chefe de Polícia do Rio, que disse: “É a inteligência que vence a violência”.

Sempre fui um policial cauteloso e técnico, com vários cursos e duas participações em cursos no exterior. Procuro sempre investigar e no  momento da prisão usar de toda a tecnologia existente para flagrar o criminoso em vulnerabilidade e desvantagem, fatos que até hoje têm surtido efeito com prisões de criminosos violentos. Como exemplo, cito a elucidação do assassinato do jornalista Tim Lopes, da Rede Globo, que culminou com a prisão e condenação de nove criminosos, dentre eles, o traficante Elias Maluco.

– Por que, em sua avaliação, os índices de solução de homicídios no Brasil é tão baixo?
– Conforme eu já ponderei, a existência de vários países Brasil dentro do Brasil, pois em cada Estado temos um quadro, não há unificação de protocolos a serem seguidos, inclusive na área de investigação, ou seja, cada um faz como quer; da forma que é possível ; com os meios que tem  e como lhe agrada. 

– Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) informam que os índices de solução não passam de 8% por ano.
– Sou um crítico da mídia e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, pois vejo vários grupos e instituições que vivem criticando a polícia, mas nunca recebi a visita de nenhum deles procurando saber sobre os bom resultados obtidos e principalmente da metodologia usada, que poderia ser divulgada à nível nacional. Exemplificaria, citando que no período de março a novembro de 2015, trabalhando no Grupo de Investigação da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense, iniciamos uma varredura em 18 municípios sob a nossa  responsabilidade e conseguimos diminuir drasticamente o número de assassinatos. Obtivemos o índice de 26% de elucidação, fato que levou a toda a equipe a ser movimentada para a Divisão de Homicídios da Capital fluminense.

Atualmente, a Divisão de Homicídios da cidade do Rio, sob o comando investigativo  do Dr. Fábio Cardoso, conta no ano de 2016, até o dia 15 de dezembro, com 447  pessoas  presas pela acusação de homicídio e latrocínio (roubo seguido de morte), com a média de 20% de elucidação, face ao aumento crescente de crimes no Estado do Rio de janeiro.

– O senhor já teve alguma atuação no Espírito Santo, mesmo que acadêmica? Já ajudou a polícia capixaba a elucidar algum crime?
– Na área policial, como  chefe do Setor de Investigação da Delegacia de  Roubos  e  Furtos de Cargas do Rio, entre 2012 e 2013, conseguimos mapear o crime de roubo de cargas no Rio de Janeiro e em várias operações desmantelamos grandes quadrilhas de roubo de cargas, com a prisão de quase 200 criminosos na  operação Colmeia, Operação Raposa e Operação Sem Fronteira. Nesta última tivemos a participação da Polícia do Espirito Santo.

Na época, com o grande trabalho realizado pela Delegacia de Cargas do Rio, sob o comando do delegado Fábio Cardoso, tivemos o prazer, na  área pedagógica, de  sermos convidados pela Transcares eAssociação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), através do coronel Paulo Roberto de Souza , para fazer palestrante no 5º Encontro de Segurança da Região Sudeste, realizado em Vitória.

– Fale mais da experiência de investigação de crimes contra a vida no Rio.
– Como bacharel em Direito, pós-graduado em Direito Penal e Processo Penal, pós-graduado em Gestão de Organização de Segurança Pública, professor da Polícia Civil, da PM e do Exército Brasileiro, cheguei ao ápice da minha carreira policial no cargo de Comissário de Polícia, lotado no Setor de Investigação da Divisão de Homicídios do Município de Rio de Janeiro, local onde cumprimos todos os protocolos de investigação estabelecidos pelo nosso diretor-geral, Dr. Rivaldo Barbosa. Ele tem conseguido unificar a investigação de crime de homicídio e o latrocínio com grande êxito na  área da capital, da Baixada Fluminense e nos municípios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí,   fato que elevou o padrão de investigação  em todo o Estado do Rio de Janeiro.

Esse sucesso alcançado tem feito, inclusive, escola para as polícias de outros Estados, que nos procuram para copiar a nossa experiência. Nos locais de crimes, nossas equipes contam com a presença do GELC (Grupo Especial de Local de Crime), do GI (Grupo de Investigação), do perito legista, perito criminal e do perito papiloscopista, que motivam inicialmente  cinco relatórios investigativos.

O que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública deveria fazer é, em vez de somente criticar,  verificar essas boas práticas  e divulgar o excelente trabalho que inclusive é retratado integralmente no livro “Manual de Homicídio”.



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