A Superintendência Regional da Polícia Federal no Espírito Santo deveria, urgentemente, dar explicações à sociedade capixaba. Ao permitir a presença da secretária Estadual de Comunicação, a jornalista Andréia Lopes, na mesma coletiva de imprensa em que estavam os delegados Vitor Moraes Soares (Federal) e Cláudia Demathé (Polícia Civil), a direção da Polícia Federal em terras capixabas deixou de lado seu padrão republicano.
A coletiva, na qual deveriam estar somente os agentes das forças policiais, foi para falar sobre a Operação Voto Livre, desencadeada na quarta-feira (14/03) “com objetivo de combater a disseminação de notícias falsas com propósito de influenciar a manifestação de vontade do eleitor capixaba”. A Voto Livre foi a primeira operação realizada no Brasil pela PF no combate às “fake News” relacionadas às eleições do ano de 2018.
A operação de quarta-feira contou com a participação de 12 policiais e foi realizado o cumprimento de dois mandados de busca e apreensão e dois mandados de intimação, nas residências dos investigados e na Secretaria Estadual de Esporte e Lazer do Espírito Santo (Sesport), localizada em Bento Ferreira, Vitória, atrás da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social.
Os alvos da intimação e dos mandados de busca e apreensão foram Evandro Figueiredo Boldrine, que até aquele momento era servidor em cargo comissionado na Sesport, ocupando a função de Assessor Especial Nível IV, para o qual recebia por mês salário bruto de R$ 5.689,13; e Arnóbio Pagantto, dono do Portal de Notícias Capixabão.com.
De acordo com as investigações das Polícias Civil e Federal – investigações estas que foram iniciadas pela Civil e concluídas parcialmente pela PF, já que falta muita coisa ainda a ser apurada –, Evandro Figueiredo seria o autor de uma reportagem postada no portal Capixabão.com, dando conta de uma suposta pesquisa eleitoral que colocava o governador Paulo Hartung (PMDB) como favorito para vencer as eleições de outubro – caso PH decida disputar a reeleição –, obtendo a maioria dos votos dos eleitores da Grande Vitória; e que o deputado estadual Amaro Neto, que apresenta o Programa Balanço Geral, da TV Vitória, seria o favorito para vencer uma disputa ao Senado.
Só tem um detalhe: a tal pesquisa nunca existiu; foi pura fraude, que teria sido praticada por Evandro e Arnóbio: “As investigações iniciaram a partir de notícia-crime apresentada por pessoa da sociedade, a qual encaminhou à Polícia Federal suposta falsa pesquisa eleitoral de intenção de votos que estaria circulando pelo aplicativo WhatsApp. Ademais, durante as investigações também foi verificada a divulgação de suposta falsa pesquisa de intenção de votos pelo veículo de comunicação CAPIXABÃO.COM”, informa a Polícia Federal por meio de release envida quarta-feira à imprensa.
A Polícia Federal esclarece, todavia, que, embora beneficiados com a pesquisa fraudulenta, o governador Paulo Hartung e o deputado Amaro Neto não tiveram nenhuma participação da fraude cometida pro Evandro Figueiredo.
As investigações, no entanto, têm que prosseguir. No final da tarde de quarta-feira, o próprio Evandro Figueiredo começou a tentar limpar sua barra junto a deputados e outros políticos. Ele telefonou para alguns parlamentares, informando que nunca agiu sozinho no episódio.
Garantiu que divulgou a pesquisa a mando de dois secretários estaduais que compõem o governo Hartung e que a secretária de Comunicação, Andréia Lopes, era a sua “chefe imediata” e tomava conhecimento de todas as informações que ele (Evandro) produzia e postava em portais de notícias e redes sociais.
Andréia Lopes, na verdade, é a chefe de todos os Assessores de Imprensa do Governo do Estado. Embora não seja jornalista profissional, Evandro Figueiredo funcionava como uma “espécie de Assessor de Comunicação” no governo, por entender de espalhar notícias nas redes sociais.
Ao fugir do padrão da Polícia Federal, no entanto, o delegado Vitor Moraes Soares e a Superintendência Regional da PF, entretanto, podem ter estabelecido a conclusão precoce das investigações, sem permitir que outros atores sejam devidamente investigados.
Não se está daqui prejulgando nenhum secretário de Estado, nem tão pouco a conduta do governador e do deputado Amaro Neto. Porém, há fatos que precisam ser explicados em torno do episódio.
Um deles, que paira dúvidas – poro ter sido algo atípico –, foi a reunião que o governador Paulo Hartung realizou com todos os secretários estaduais e dirigentes de Órgãos Públicos Estaduais “para alinhar com a equipe condutas vedadas em ano eleitoral”. Coincidentemente, essa reunião aconteceu na segunda-feira (12/03), no Palácio Anchieta, dois dias antes da Operação Voto Livre. No dia seguinte, foi a vez da Andréia Lopes reunir em torno dela os Assessores de Imprensa do governo estadual.
De acordo com o próprio Portal do Governo do Estado, “na reunião foram apresentadas as normas éticas e legais que devem nortear a atuação dos agentes públicos estaduais no ano das eleições gerais de 2018. A reunião também teve como objetivo orientar a conduta dos agentes públicos estaduais e reforçar as ações vedadas no período eleitoral deste ano para impedir o uso da máquina pública em benefício de qualquer interesse particular”.
Evandro trabalhou de fevereiro de 2017 a abril do mesmo ano no Gabinete do deputado Amaro Neto, na Assembleia Legislativa. Foi para o Governo do Estado a pedido de Amaro, que faz parte da bancada governista na Ales. Foi trabalhar justamente com o secretário Roberto Carneiro, maior amigo e aliado de Amaro Neto dentro do governo. Aí entra outra coincidência: justamente no mesmo dia da Operação Voto Livre, Amaro e Roberto Carneiro estavam em Brasília, cuidando de “assuntos políticos”.
A presença da secretária de Comunicação Andréia Lopes, na coletiva da Polícia Federal, foi mais do que patética. A todo instante, ela falava para os jornalistas, frisando sempre que o governador Paulo Hartung nada tinha a ver com o episódio.
Como bem colocou o jornalista Vitor Vogas, na coluna Praça Oito, de A Gazeta, desta quinta-feira (15/03), o procedente nada republicano aberto pela Superintendência Regional da PF no Espírito Santo, “guardadas as devidas proporções, seria o mesmo que o procurador da República Dental Dallagnol expor seu famoso PowerPoint com as setas apontando para Lula com um porta-voz do PT ao lado e com direito a expor sua versão dos fatos”.
Eu acrescentaria: seria o mesmo que o atual secretário de Estado de Controle e Transparência, o delegado federal Marcos Pugnal, conceder uma coletiva, para apresentar procedimentos administrativos instaurados em desfavor de servidores públicos investigados por fraudar licitações para beneficiar determinada empresa a prestar serviços ao Governo do Estado, com o Assessor ou Assessora de Comunicação dessa mesma empresa sentada ao lado do secretário, na mesma mesa, falando sobre a posição da empresa.
Fica, então, a sugestão para a Polícia Federal: aperte o Evandro Figueiredo que ele está doido para falar mais no inquérito, sobretudo agora, depois que o Diário Oficial desta quinta-feira (15/03) publica a sua exoneração de Evandro Figueiredo. Mais uma vez, como diz o ditado, “sobrou para o mais fraco”.
Evandro terá de repetir para o delegado federal o que vem falando para alguns deputados: os nomes dos dois secretários que o mandaram publicar a pesquisa e sua relação de subordinado à secretária Andréia Lopes.
Como ficará agora a situação do delegado Vitor Moraes Soares se ele for motivado a investigar outros atores dentro do governo estadual? Se a secretária Andréia Lopes se tornar alvo de oitiva? Como vai ficar o caso? Pelo que se observa da apuração, nada está concluído, pois há muitos fatos a serem investigados.
A Polícia Federal, portanto, não precisa ser submissa aos desejos dos governantes. Ela já vem demonstrando, há décadas, que é uma Polícia Republicana – haja vista a Operação Lava-Jato e as investigações contra o próprio presidente da República, Michel Temer. De submissas, já bastam as Polícias Civis e Militares.
Que no Espírito Santo, a Polícia Federal nunca mais caia no canto da sereia. Ou melhor, no canto da secretária Estadual de Comunicação, Andréia Lopes, que, aliás, é muito boa de conversa.
A coletiva, na qual deveriam estar somente os agentes das forças policiais, foi para falar sobre a Operação Voto Livre, desencadeada na quarta-feira (14/03) “com objetivo de combater a disseminação de notícias falsas com propósito de influenciar a manifestação de vontade do eleitor capixaba”. A Voto Livre foi a primeira operação realizada no Brasil pela PF no combate às “fake News” relacionadas às eleições do ano de 2018.
A operação de quarta-feira contou com a participação de 12 policiais e foi realizado o cumprimento de dois mandados de busca e apreensão e dois mandados de intimação, nas residências dos investigados e na Secretaria Estadual de Esporte e Lazer do Espírito Santo (Sesport), localizada em Bento Ferreira, Vitória, atrás da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social.
Os alvos da intimação e dos mandados de busca e apreensão foram Evandro Figueiredo Boldrine, que até aquele momento era servidor em cargo comissionado na Sesport, ocupando a função de Assessor Especial Nível IV, para o qual recebia por mês salário bruto de R$ 5.689,13; e Arnóbio Pagantto, dono do Portal de Notícias Capixabão.com.
De acordo com as investigações das Polícias Civil e Federal – investigações estas que foram iniciadas pela Civil e concluídas parcialmente pela PF, já que falta muita coisa ainda a ser apurada –, Evandro Figueiredo seria o autor de uma reportagem postada no portal Capixabão.com, dando conta de uma suposta pesquisa eleitoral que colocava o governador Paulo Hartung (PMDB) como favorito para vencer as eleições de outubro – caso PH decida disputar a reeleição –, obtendo a maioria dos votos dos eleitores da Grande Vitória; e que o deputado estadual Amaro Neto, que apresenta o Programa Balanço Geral, da TV Vitória, seria o favorito para vencer uma disputa ao Senado.
Só tem um detalhe: a tal pesquisa nunca existiu; foi pura fraude, que teria sido praticada por Evandro e Arnóbio: “As investigações iniciaram a partir de notícia-crime apresentada por pessoa da sociedade, a qual encaminhou à Polícia Federal suposta falsa pesquisa eleitoral de intenção de votos que estaria circulando pelo aplicativo WhatsApp. Ademais, durante as investigações também foi verificada a divulgação de suposta falsa pesquisa de intenção de votos pelo veículo de comunicação CAPIXABÃO.COM”, informa a Polícia Federal por meio de release envida quarta-feira à imprensa.
A Polícia Federal esclarece, todavia, que, embora beneficiados com a pesquisa fraudulenta, o governador Paulo Hartung e o deputado Amaro Neto não tiveram nenhuma participação da fraude cometida pro Evandro Figueiredo.
As investigações, no entanto, têm que prosseguir. No final da tarde de quarta-feira, o próprio Evandro Figueiredo começou a tentar limpar sua barra junto a deputados e outros políticos. Ele telefonou para alguns parlamentares, informando que nunca agiu sozinho no episódio.
Garantiu que divulgou a pesquisa a mando de dois secretários estaduais que compõem o governo Hartung e que a secretária de Comunicação, Andréia Lopes, era a sua “chefe imediata” e tomava conhecimento de todas as informações que ele (Evandro) produzia e postava em portais de notícias e redes sociais.
Andréia Lopes, na verdade, é a chefe de todos os Assessores de Imprensa do Governo do Estado. Embora não seja jornalista profissional, Evandro Figueiredo funcionava como uma “espécie de Assessor de Comunicação” no governo, por entender de espalhar notícias nas redes sociais.
Ao fugir do padrão da Polícia Federal, no entanto, o delegado Vitor Moraes Soares e a Superintendência Regional da PF, entretanto, podem ter estabelecido a conclusão precoce das investigações, sem permitir que outros atores sejam devidamente investigados.
Não se está daqui prejulgando nenhum secretário de Estado, nem tão pouco a conduta do governador e do deputado Amaro Neto. Porém, há fatos que precisam ser explicados em torno do episódio.
Um deles, que paira dúvidas – poro ter sido algo atípico –, foi a reunião que o governador Paulo Hartung realizou com todos os secretários estaduais e dirigentes de Órgãos Públicos Estaduais “para alinhar com a equipe condutas vedadas em ano eleitoral”. Coincidentemente, essa reunião aconteceu na segunda-feira (12/03), no Palácio Anchieta, dois dias antes da Operação Voto Livre. No dia seguinte, foi a vez da Andréia Lopes reunir em torno dela os Assessores de Imprensa do governo estadual.
De acordo com o próprio Portal do Governo do Estado, “na reunião foram apresentadas as normas éticas e legais que devem nortear a atuação dos agentes públicos estaduais no ano das eleições gerais de 2018. A reunião também teve como objetivo orientar a conduta dos agentes públicos estaduais e reforçar as ações vedadas no período eleitoral deste ano para impedir o uso da máquina pública em benefício de qualquer interesse particular”.
Evandro trabalhou de fevereiro de 2017 a abril do mesmo ano no Gabinete do deputado Amaro Neto, na Assembleia Legislativa. Foi para o Governo do Estado a pedido de Amaro, que faz parte da bancada governista na Ales. Foi trabalhar justamente com o secretário Roberto Carneiro, maior amigo e aliado de Amaro Neto dentro do governo. Aí entra outra coincidência: justamente no mesmo dia da Operação Voto Livre, Amaro e Roberto Carneiro estavam em Brasília, cuidando de “assuntos políticos”.
A presença da secretária de Comunicação Andréia Lopes, na coletiva da Polícia Federal, foi mais do que patética. A todo instante, ela falava para os jornalistas, frisando sempre que o governador Paulo Hartung nada tinha a ver com o episódio.
Como bem colocou o jornalista Vitor Vogas, na coluna Praça Oito, de A Gazeta, desta quinta-feira (15/03), o procedente nada republicano aberto pela Superintendência Regional da PF no Espírito Santo, “guardadas as devidas proporções, seria o mesmo que o procurador da República Dental Dallagnol expor seu famoso PowerPoint com as setas apontando para Lula com um porta-voz do PT ao lado e com direito a expor sua versão dos fatos”.
Eu acrescentaria: seria o mesmo que o atual secretário de Estado de Controle e Transparência, o delegado federal Marcos Pugnal, conceder uma coletiva, para apresentar procedimentos administrativos instaurados em desfavor de servidores públicos investigados por fraudar licitações para beneficiar determinada empresa a prestar serviços ao Governo do Estado, com o Assessor ou Assessora de Comunicação dessa mesma empresa sentada ao lado do secretário, na mesma mesa, falando sobre a posição da empresa.
Fica, então, a sugestão para a Polícia Federal: aperte o Evandro Figueiredo que ele está doido para falar mais no inquérito, sobretudo agora, depois que o Diário Oficial desta quinta-feira (15/03) publica a sua exoneração de Evandro Figueiredo. Mais uma vez, como diz o ditado, “sobrou para o mais fraco”.
Evandro terá de repetir para o delegado federal o que vem falando para alguns deputados: os nomes dos dois secretários que o mandaram publicar a pesquisa e sua relação de subordinado à secretária Andréia Lopes.
Como ficará agora a situação do delegado Vitor Moraes Soares se ele for motivado a investigar outros atores dentro do governo estadual? Se a secretária Andréia Lopes se tornar alvo de oitiva? Como vai ficar o caso? Pelo que se observa da apuração, nada está concluído, pois há muitos fatos a serem investigados.
A Polícia Federal, portanto, não precisa ser submissa aos desejos dos governantes. Ela já vem demonstrando, há décadas, que é uma Polícia Republicana – haja vista a Operação Lava-Jato e as investigações contra o próprio presidente da República, Michel Temer. De submissas, já bastam as Polícias Civis e Militares.
Que no Espírito Santo, a Polícia Federal nunca mais caia no canto da sereia. Ou melhor, no canto da secretária Estadual de Comunicação, Andréia Lopes, que, aliás, é muito boa de conversa.